Descrição:
ELIAS, Dinora de Godoy
Atualmente a educação escolar tem sido o principal meio de acesso aos saberes científicos elaborados pela humanidade. Contudo, isto não está posto a todos. Ao concluírem o Ensino Fundamental, algumas crianças apresentam defasagens quanto ao domínio das habilidades básicas de leitura, escrita e cálculo, muitas das quais recebem o diagnóstico de dislexia. Partindo desta constatação, pretendeu-se nesta pesquisa analisar os problemas que envolvem a perspectiva biologizante sobre a dislexia, e sua conceituação como um transtorno de aprendizagem na área da leitura e da escrita. Optou-se pelo referencial teórico proposto pela Psicologia Histórico-Cultural, o qual indica que todos possuem condições para aprender constituindo-se enquanto gênero humano, a partir do desenvolvimento das funções psicológicas superiores. Identificou-se, nas escolas públicas do município de Guaraniaçu –PR, em 2013, o número de crianças diagnosticadas, em laudo médico, como disléxicas, e qual o atendimento educacional que recebiam. Investigou-se a legislação estadual que orienta o atendimento educacional especializado oferecido aos alunos disléxicos, detectando-se contradições entre os fundamentos teóricos e a forma de ingresso nesse serviço. Na pesquisa de campo aplicaram-se questionários aos professores que lecionam nos anos iniciais do Ensino Fundamental, e que atuam como regentes de classe da única escola municipal que oferece atendimento educacional especializado em Sala de Recursos Multifuncional –Tipo I, e a todos os docentes da disciplina de Língua Portuguesa dos anos finais desse nível de ensino, nas escolas da rede estadual desse município, no intuito de analisar como esses profissionais entendem e organizam seu trabalho diante das dificuldades de aprendizagem dos alunos diagnosticados como disléxicos. Entrevistaram-se as crianças que possuem laudo de dislexia, e suas mães, a fim de identificar como chegaram a esse diagnóstico e quais as consequências desse documento para o seu percurso escolar. Dos alunos pesquisados, três apresentavam dificuldades de ordem biológica que, de certa forma, poderiam indicar problemas neurológicos. Com relação aos outros catorze alunos, identificaram-se nos relatos, justificativas pedagógicas para a não aprendizagem no tempo considerado adequado. Concluiu-se, identificando alguns pontos comuns na origem da dislexia, os quais se vinculam à precarização da escola pública destinada aos alunos da classe trabalhadora, envolvendo o trabalho docente inadequado às necessidades dos alunos por situações que transcendem a vontade individual desses profissionais e também às relações familiares que se encontram ainda atreladas a condições sociais e a modelos valorativos impostos socialmente, que não permitem o adequado acompanhamento do processo de formação humana da criança em idade escolar.
PALAVRAS-CHAVE: Dislexia. Psicologia Histórico-Cultural. Ensino Fundamental. Processos de ensino e processos de aprendizagem.
|