Descrição:
Muzi, Adilson Cláudio
O objetivo geral desta dissertação é o de investigar as percepções de professoras e professores sobre o uso das TICs no cotidiano da sala de aula. Essa discussão considerou na análise dos dados uma perspectiva de gênero, compreendida a partir das relações sociais que se desenvolveram entre estas/es profissionais no âmbito dos espaços público, da escola, e privado, do lar. A opção metodológica pautou-se por uma pesquisa qualitativa de natureza interpretativa, permitindo a análise dos depoimentos das/os entrevistadas/os. A investigação contou com a participação de dezenove docentes, mulheres e homens, que responderam a um roteiro de entrevista semiestruturada com questões abertas. Verificou-se que a maioria das/os docentes não teve em sua formação acadêmica inicial e na pós-graduação uma disciplina que abrangesse uma discussão teórica/prática sobre a utilização das tecnologias. Verificou-se,também, a falta de cursos de formação continuada e de oficinas pedagógicas com uma abordagem ao uso das TICs em sala de aula. Ficou evidenciado que existem dificuldades no manuseio dessas tecnologias no cotidiano da sala de aula, e analisadas sob a perspectiva de gênero, revelou que apesar da maioria dos professores em seu discurso afirmarem que homens e mulheres são iguais diante dessas tecnologias, ele é contraditório. A maioria das professoras assume ter dificuldades com o uso das TICs, já os professores negam tê-las, evidenciando o discurso patriarcal de que as mulheres não são iguais aos homens para a manipulação das TICs. A pesquisa revelou ainda uma extensa carga horária de aulas, distribuídas em diferentes estabelecimentos de ensino e, também, a existência da dupla jornada de trabalho para todas/os elas/es. Entretanto, ficou evidenciado que essa dupla jornada é marcada pela diferença entre atividades para essas/es profissionais. Nela, a maioria dessas mulheres assumem atividades especificamente na esfera doméstica limpando a casa, lavando e passando roupas, lavando louça, cozinhando e cuidando dos filhos, sem remuneração, por estas, serem desenvolvidas em seus lares. Apesar dos homens admitirem dividir as tarefas domésticas com suas companheiras, seus discursos retratam uma divisão com o sentido de “ajuda”, reforçando o discurso patriarcal de que as mulheres são responsáveis pelas tarefas domésticas. Essas diferenças estão associadas à divisão sexual do trabalho nos espaços público e privado e se mantém, sobretudo, por representações de gênero que associam a mulher ao espaço privado, ao cuidado e à delicadeza e, os homens, ao espaço público, ao provimento da família e ao trabalho pesado. Evidenciou-se, portanto, que as relações sociais entre estas/es professoras/es, na vida profissional e no âmbito do lar, são relações permeadas por poder, e que, apesar dessas mulheres experienciarem situações de igualdade em alguns espaços no âmbito do colégio e do lar, de certa forma, ainda estão subordinadas ao discurso patriarcal capitalista, que ainda hoje reproduz desigualdades de gênero, e condiciona essas mulheres a uma posição de subordinação e desvalorização.
Palavras-chave: Tecnologia. Prática docente. Formação docente. Divisão sexual do trabalho.Gênero.
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