Diz a lenda que todos querem ser modelos. Com base em pesquisa de campo realizada em uma escola de modelos de Curitiba e entrevistas semi-estruturadas com as alunas e profissionais da área, esta dissertação pretende explorar o que está embutido na lenda e em que consiste a profissão de modelo. Mercado vinculado à publicidade e restrito por definição, sua competitividade implícita garante a eficácia simbólica que legitima a alta estima própria daqueles que devem demonstrar exatamente isto. As técnicas corporais e os imperativos do campo constroem uma forma específica de subjetividade que enfatiza a individualidade e cria uma imagética de superioridade logo, desigualdade. As expectativas e a visibilidade que fazem parte do universo dos/as modelos recriam e reforçam performances de gênero. As diferenças entre as representações de modelos de masculinidade e feminilidade podem ser verificados no tocante à idade de ingresso, nos níveis de retificação estética exigidos e na expressividade dos corpos. Tanto o padrão histórico de beleza dos homens (apolíneo) é mais estável do que o das mulheres, como a linguagem corporal em uma passarela elabora o feminino como assimétrico. Por excelência não-argumentativo, o ofício de modelos dá origem a um discurso que não é por eles/as elaborado: “modelo é cabide”.