A religiosidade está na matriz da existência humana. Desde os tempos e lugares sacralizados às mais abjetas instâncias de profanação, o ser humano não se separa de sua supra-existência, de sua faceta (por mais oculta ou rechaçada que seja em alguns) mística e transcendente. E a história se faz a partir das temporalidades e dos homens (sagrados ou profanos): “é a ciência dos homens no tempo”, conforme a célebre frase de Marc Bloch. 1 É precisamente isso que distingue o saber histórico de outros saberes, como observa Eduardo Basto de Albuquerque, isto é: “sua postura de ancorar-se no tempo como fundamento de onde partem todas as suas análises. Sem o tempo não há historiador. Breve ou curto e longo ou muito longo, sempre o tempo é a base na qual todo historiador se finca para realizar suas análises”2, embora, acrescento, não deva admitir ser escravizado por uma tirania, seja em relação ao passado ou até mesmo ao presente. Presente e passado se interpenetram na linguagem de Bloch.