Em que pese o fato de séculos terem se passado desde a derrocada do mundo antigo e a crítica do teocentrismo medieval pelo pensamento moderno, a completa superação de algumas das categorias centrais da ontologia tradicional, apesar de já efetivada no plano da teoria, ainda não foi absorvida e conscientemente integrada ao processo de reprodução da sociabilidade contemporânea. Pensamos, em especial, na relação entre historicidade e as categorias de essência e fenômeno. Eventos desse tipo -- a incapacidade de a humanidade assimilar genericamente avanços já efetivados por indivíduos -- são frequentes na história. Neste caso específico, as processualidades alienantes da vida cotidiana sob a regência do capital jogam papel decisivo. Ao fim e ao cabo, tais alienações são as mediações que articulam, por um lado, a produção incessante do novo (em escala e intensidade crescentes) que caracteriza a reprodução da sociabilidade contemporânea com, por outro lado, a necessidade desta mesma sociabilidade restringir aos parâmetros do capital as novas potencialidades, que ela mesmo faz surgir, para o desenvolvimento do para-si do gênero humano.
Palavras-chave: Lukacs. Historicidade da essência. Sergio Lessa.