O presente artigo parte da discussão de um estudo clássico sobre a "memória" nas ciências sociais: as obras acerca da "memória coletiva" escritas por Maurice Halbwachs (1976 [1925], 1968 [1950]). Talvez devido a seu grande sucesso, diversos autores consideram que elas esgotaram sua capacidade de emprestar legibilidade aos fenômenos observados. Nosso objetivo é propor um enfoque para a pesquisa que, inspirado pelo pensamento deste autor, dele se delimita ao realizar a crítica dos instrumentos e dos objetivos por ele definidos. Para tanto, serão utilizadas como material empírico as lembranças produzidas por imigrantes camponeses de origem eslava — os "rutenos" ou "ucranianos"— acerca de sua vinda ao Brasil no final do século XIX. O artigo inicia-se com um estudo crítico das ideias de Halbwachs sobre as relações entre "memória" e "sociedade"; após uma breve apresentação dos imigrantes ucranianos, explora relatos de sua imigração para encetar uma discussão que envolve as condições sociais que infletiram a produção de suas lembranças; por fim, conclui-se com o exame de algumas implicações da análise aqui empreendida.