Na obra de Gilberto Freyre, e em particular em Casa-grande e senzala, percebemos claramente a importância das relações entre religião e cultura na formação da sociedade brasileira. No Brasil se formou uma religiosidade peculiar, muito distante da ortodoxia puritana dos colonizadores da América do Norte e mesmo do catolicismo espanhol no restante da América. Por pressão social ou por contágio, rapidamente se impregnou o escravo da religião católica dominante. Mas os negros tiveram também a oportunidade de conservar formas e acessórios da cultura e do misticismo africano. Para Freyre, foi um cristianismo doméstico, lírico e festivo que criou, no Brasil, as primeiras ligações espirituais, morais e estéticas entre a família, a sociedade e a cultura. São estas interligações entre religião, cultura e poder que exploramos neste artigo.