O presente trabalho propõe um enfoque na arte e no estilo da cerâmica arqueológica funerária da Amazônia com o objetivo de aprofundar o entendimento sobre as formas de organização social e as dinâmicas pré-coloniais de ocupação humana da região. Utilizando-nos de conceitos da antropologia social e da antropologia da arte sobre estilo e agência, analisamos os objetos rituais funerários enquanto mediadores e transformadores das relações sociais. Uma incursão exploratória na etnologia de rituais funerários, em particular nas implicações do perspectivismo ameríndio sobre as concepções de humanidade, ancestralidade, morte, corpo e alma na Amazônia, somada a um breve panorama da variabilidade estilística das urnas antropomorfas das diferentes tradições e fases cerâmicas arqueológicas, propomos alguns parâmetros comparativos para a correlação entre estilos funerários e formas de reprodução social. Os parâmetros propostos são então verificados para o caso particular de um conjunto de urnas funerárias da fase marajoara. Concluímos que a cerâmica ritual e, em particular a funerária, apresenta um enorme potencial analítico para resolvermos algumas incongruências epistemológicas que tem se apresentado entre a arqueologia e a etnologia da Amazônia, notadamente sobre os diferentes princípios de organização social das sociedades do passado e do presente.
Palavras-chave: Arqueologia da Amazônia. Arte e arqueologia. Estilo e arqueologia. Arqueologia da morte. Rituais funerários.