Descrição:
GILLIES, Ana Maria Rufino
Esta tese discute a trajetória de uma imigrante britânica, Caroline Tamplin, que viveu no Paraná na segunda metade do século XIX. Caroline, como muitas outras mulheres imigrantes, veio para o Brasil na companhia do marido e dos filhos e, em 1868, foi encaminhada para a colônia Assunguy. No ano de 1874, após a morte do marido, decidiu permanecer na colônia por mais seis anos, atuando como professora, em escola formada em suas próprias terras, no núcleo do Turvo. Todavia, em 1880, colocou anúncio no jornal Dezenove de Dezembro e, na companhia de dois filhos, mudou-se para Curitiba, onde passou a oferecer seus serviços para um segmento particular da sociedade curitibana constituído por famílias de luso-brasileiros e imigrantes bem sucedidos, ensinando línguas, desenho, pintura e piano. Além das relações forjadas no campo profissional, Caroline também estabeleceu, com esse grupo, laços de amizade, solidariedade e parentesco. A partir de um diário escrito por ela, entre os anos de 1880-1882, e das memórias escritas pelo neto, na década de 1950, aliadas a outras fontes, como jornais do período e correspondências e relatórios oficiais, a tese problematiza a inserção dos ingleses no Paraná, enfocando, particularmente, a trajetória de Caroline e as relações sociais por ela estabelecidas com a sociedade curitibana e moradores da colônia Assunguy. Para tanto, selecionamos o período de 1860 a 1890, com a intenção de cobrir os anos em que os britânicos começaram a chegar ao Paraná, até o momento que sua presença tornou-se menos significativa, tendo em vista a saída da maioria dos imigrantes ingleses da colônia Assunguy. Abordamos a campanha desenvolvida na Inglaterra que os atraiu para o Brasil, as condições de existência que encontraram na colônia, e os negócios e serviços que procuraram desenvolver em Curitiba. A leitura e análise da imprensa periódica e de correspondências e relatórios oficiais, permitiu também uma inserção no cotidiano de pessoas residentes na capital da então província do Paraná, ampliando nosso conhecimento a respeito dos interesses, valores e práticas culturais e sociais de uma certa parcela da sociedade. Como as fontes fundamentais deste estudo são de natureza autobiográfica, buscamos sustentação teórica em autores ligados à Historia Cultural, entre os quais Philippe Artières, Michael Pollak, Maurice Halbwachs, Roger Chartier, Pierre Bourdieu e Norbert Elias. A partir do diálogo com esses intelectuais, foi possível problematizar a emergência da individualidade e da privacidade, bem como a importância adquirida pela ‘escrita de si’, não só como prática cultural, mas também como estratégia de construção e reconstrução de identidades.
Palavras-chave: Imigração britânica. Representação. Memórias. Identidade.
|