No período compreendido entre o final do século XVIII e ao longo do XIX estabeleceu-se uma crise de valores no âmbito das produções literárias. Colocados em xeque os critérios clássicos de valoração, instaurou-se o que Leyla Perrone-Moisés chamou de ‘mal-estar da avaliação’. Uma das consequências dessa instabilidade foi o fato de que os próprios escritores passaram a produzir discursos cuja tônica era a teorização da literatura. Prefácios, posfácios, cartas, textos jornalísticos etc. foram transformados em veículos provocadores da reflexão sobre o fenômeno literário. Além desses textos desenvolvidos em paralelo às obras ficcionais, muitos escritores inseriram essa auto-reflexão na própria ficção. Em conjunto, esses textos representam o que Antoine Compagnon chamou de terrorismo teórico. O leitor, fosse ele representado pelos outros escritores, fosse o público num sentido mais genérico e, portanto, menos especializado, passou então a ser constantemente convocado a participar ativamente desse processo. A interlocução com o leitor foi uma das estratégias terroristas mais utilizadas.