Descrição:
CABRAL, Carla Giovana
A humanidade assistiu, no século XX, a um maior ingresso das mulheres em carreiras como a Física, a Matemática, a Química, a Biologia, a Medicina, a Engenharia e, num período mais recente, as Ciências da Computação. Esse ingresso, que coincide com a permissão legal em muitas sociedades para que estudassem em escolas de nível superior, poderia ter representado uma merecida valorização das ideias e do trabalho femininos, menosprezados durante oito mil anos de história da civilização. Em carreiras como a Engenharia e as Ciências da Computação, o processo de feminização – ou seja, do aumento do número de mulheres – ainda encontra diversos tipos de barreiras, resistindo a uma igualdade/ equidade de gênero. Na Medicina e na Biologia, por exemplo, a feminização não representou apenas um aumento em número, mas significou um ganho de espaço e status. Por que isso não aconteceu (ainda) na área tecnológica? Engenharia e computação pertencem à área de conhecimento mais masculina no Brasil. Somente cerca de 25% dos pesquisadores são mulheres. No Centro Tecnológico da Universidade Federal de Santa Catarina – onde realizei esta pesquisa de doutorado – a média de professoras-pesquisadoras não passa de 12%. Ao investigar as histórias de vida de um grupo de professoras desse centro, deparei-me com discriminações, notadamente tácitas, e microdesigualdades, o que as impele a estratégias como a de “ser e fazer mais” como forma de sobrevivência na área. Nessa análise histórico-social, enlaço os relatos das primeiras professora e aluna do CTC. O que mudou da década de 60 para cá? As percepções de ciência e de tecnologia e a incorporação de valores humanistas também foram analisadas. São dados que constroem a leitura da presença (ou não) de uma consciência crítica na área e a discussão da tese que desenvolvo na minha pesquisa de doutorado – a do conhecimento dialogicamente situado. Quando subjetividade e objetividade pertencem à esfera de uma relação dialógica, os níveis de consciência em que isso ocorre são os de uma construção crítica. As relações entre a ciência, a tecnologia e a sociedade não se esfalfam numa ação determinista, mas estão presentes em ações de transformação social para uma história mais justa e igual para a humanidade. Qual o papel dos valores humanistas nesse processo? Primeiramente, é preciso que o valor seja reconhecido como um catalisador de ações de transformação coletiva, transcendendo a esfera pessoal em que tem origem, tornando-se objeto de uma práxis. O caminho de incorporação desse valor dependerá do contexto e do nível de consciência do sujeito, assim como de sua história, das relações de poder em que esteja imbricado. No conhecimento dialogicamente situado é forte a componente educacional, a da formação de uma cultura científica e tecnológica crítica que não seja privilégio apenas do cientista, mas se esprai na sociedade. O conhecimento dialogicamente situado não é universal. Ideológico, é um saber que se pretende agente de transformação social tem referente de partida, de leitura, nas relações desiguais de poder entre homens e mulheres, que é o caso desta pesquisa, e entre homens e mulheres de diferentes origens e classes sociais.
Palavras-chave: CTS e gênero. Epistemologia feminista. Mulheres na engenharia. Educação tecnológica.
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