Descrição:
ARAUJO, Débora Cristina de A presente pesquisa teve como objeto de análise os discursos sobre os grupos raciais brancos e negros, produzidos a partir de leituras de obras infanto-juvenis em salas de aula. A partir dessa perspectiva foi constituído o problema de pesquisa: os discursos da literatura infanto-juvenil e sua interpretação, em contexto escolar, apresentam estratégias ideológicas relativas à dominação racial? A metodologia utilizada foi a Hermenêutica da Profundidade (HP), com a proposta de investigar se a produção, veiculação e recepção/interpretação de obras literárias infanto-juvenis apresentavam discursos que atuavam no sentido de produzir/reproduzir hierarquias raciais. O exame de contexto consistiu em análise de bibliografia sobre literatura infanto-juvenil e, em específico, de estudos sobre ideologia e relações raciais relacionados a este gênero literário; análise de documentos relativos ao Programa Nacional Biblioteca da Escola; análise de estudos sobre relações raciais na escola. Para análise formal foi realizado estudo exploratório em uma escola e estudo de campo em outra, que consistiu em presenciar, gravar e transcrever oito aulas de leitura em turmas de quarta série do ensino fundamental. Foram observadas várias estratégias ideológicas na interpretação das mensagens dos livros, em especial a diferenciação, que se relacionou, neste estudo, ao cânone estabelecido por meio de um modelo eurocêntrico de currículo e literatura infanto-juvenil, conferindo às aulas analisadas nesta pesquisa uma característica de artificialidade, por serem direcionadas única e exclusivamente a obras que tematizam a cultura africana. Outra estratégia recorrente foi a estigmatização, responsável por reforçar pré-concepções e estereótipos a respeito da história e cultura afro-brasileira e africana. No que se refere à branquidade (enquanto categoria de análise das relações raciais) resultados ambíguos e divergentes foram encontrados: em alguns momentos, a postura da professora atuou no sentido de reforçar estereótipos ora por meio do silêncio e omissão diante de práticas discriminatórias, ora através de conceituações restritivas e estigmatizantes sobre a população africana; e, em outros, avanços foram verificados por relacionarem-se a alterações na atuação pedagógica de professoras brancas que, diante do compromisso em atender às expectativas desta pesquisa, desenvolveram leituras e posteriores debates que operaram de forma a promover rupturas de um modelo depreciativo de representação da cultura africana. Este resultado, em específico, representou um diferencial em comparação com resultados de outras pesquisas sobre o mesmo tema, as quais identificaram que a branquidade como norma agiu de forma latente no fortalecimento do racismo no espaço escolar. Em síntese, os resultados observados através da interpretação das formas simbólicas apontam que a ideologia se fez presente nos diversos estágios de produção, difusão e, sobretudo, recepção de obras literárias infanto-juvenis.
Palavras-chave: Literatura infanto-juvenil. Relações raciais. Ideologia; Discurso. Hermenêutica da Profundidade.
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