Descrição:
SANTOS, Roseli Coelho.
A exótica rã-touro (Lithobates catesbeianus) é considerada propagadora do fungo Batrachochytrium dendrobatidis (Bd), causador de quitridiomicose. A quitridiomicose é uma doença emergente e relacionada a declínios populacionais e extinções de anfíbios em diversos continentes. No Brasil, o cenário é preocupante devido a elevada diversidade e endemismo de anfíbios e a rápida expansão na ocorrência de populações de rã-touro nos ambientes naturais. Neste estudo, nós analisamos a presença de Bd em rã-touro e o papel dos ranários como potencializadores na dispersão de quitridiomicose para os ambientes naturais. Realizamos o estudo em seis ranários e oito localidades com lagoas naturais no sul do Brasil, no período de setembro de 2016 a maio de 2017. Quantificamos a prevalência e a intensidade de Bd em amostras de secreção cutânea de rã-touro, com a técnica de qPCR. Encontramos indivíduos infectados por Bd em todos os locais amostrados. Registramos alta prevalência e baixa intensidade do fungo. Nos ranários, 72,7% (n =88) dos indivíduos estavam infectados e nas lagoas, 60,6 % (n = 94). A carga de zoósporos de 5% dos indivíduos foi acima de 10.000. A prevalência de indivíduos infectados não diferiu entre ranários e ambientes naturais, mas entre os ranários, o tipo do manejo foi importante, sendo o manejo com ciclo de vida completo em cativeiro relacionado às menores prevalências. A carga de zoósporos também não diferiu entre indivíduos de ranários e de ambientes naturais, mas variou significativamente entre locais de amostragem. A distância entre os ranários e as lagoas não interferiu na prevalência e carga de zoósporos. As fêmeas apresentaram maiores cargas de zoósporos. Nas lagoas, a carga de zoósporos foi influenciada pela temperatura da água e nos ranários, pela temperatura da água, temperatura do ar e pH. Embora os ranários parecem não influenciar na prevalência ou carga de zoósporos de indivíduos que vivem em lagoas próximas, eles podem estar atuando como fonte constante de entrada de indivíduos e patógenos para os ambientes naturais, especialmente em estabelecimentos com manejo aberto, ou seja, quando parte do ciclo de vida ocorre fora do cativeiro. Neste sentido, é fundamental e urgente a adoção de medidas de monitoramento, manejo e controle de ranários na região sul do Brasil.
Palavras-chave: Conservação biológica. Doenças emergentes. Espécie exótica invasora. Anfíbios. Mata Atlântica.
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