Descrição:
WOZNIAK-GIMÉNEZ, Andrea Beatriz
Mercedes Sosa (1935-2009) e Elis Regina (1945-1982) constituíram-se em expressões da música popular latino-americana da segunda metade do século XX, representativas dentro de seus campos musicais, a música folclórica argentina e a música popular brasileira. Tanto Mercedes quanto Elis desenvolveram e reformularam seus projetos artísticos dialogando com os princípios estéticos dinamizados dentro de seus campos musicais assim como tensionaram os paradigmas musicais estabelecidos, contribuindo ativamente na reconfiguração destes espaços. Participantes dos processos de renovação musical e poética que deram origem ao Novo Cancioneiro e a MPB, seus repertórios e performances musicais integraram as lutas por redefinição de representações do nacional e do popular nas décadas de 1960 e 1970. O objetivo principal desta tese consistiu em comparar as trajetórias artísticas, as posturas estético-ideológicas e as obras musicais de Mercedes Sosa e Elis Regina, observando suas inter-relações e apropriações das discussões que aproximavam arte e utopia de transformação social que envolveu as artes nas décadas de 1960 e 1970. Suas trajetórias artísticas aproximam-se na busca por renovação poética e musical, atualizando e ressignificando tradições musicais; na valorização da música popular e nacional; no engajamento com a utopia de transformação social e, a partir dela, na disseminação de representações centradas no ideário nacional-popular; nas relações estabelecidas com a indústria cultural como forma de projeção artística; e nas performances paradigmáticas, as quais transformaram cada uma em referência enquanto intérprete, extrapolando as fronteiras de seus países de origem. No primeiro capítulo buscou-se evidenciar os processos de configuração e reconfiguração dos campos musicais em que tais intérpretes estiveram inseridas, a música folclórica argentina e a música popular brasileira, em especial os processos que originaram o Novo Cancioneiro e a Música Popular Brasileira, frutos do desejo de renovação musical e da simbiose entre arte e política. No segundo capítulo tratou-se de analisar e comparar as trajetórias artísticas de Mercedes Sosa e Elis Regina dentro de seus campos musicais na década de 1960, buscando compreender como suas práticas artísticas ajudaram a compor tais perspectivas musicais, o Novo Cancioneiro e a MPB. A partir da análise de suas produções artísticas, dos processos de reconhecimento e consagração dentro de seus campos musicais, tratou-se de evidenciar as formulações e reformulações de suas concepções, práticas e projetos artísticos. Também realizou-se um inventário das principais representações e identidades sociais mobilizadas através de seus repertórios, em especial as relacionadas ao nacional-popular, as quais integraram as lutas por redefinição de significados dentro da cultura popular na Argentina e no Brasil do período. No terceiro capítulo buscou-se analisar e comparar as trajetórias artísticas das duas intérpretes na década de 1970, em especial, as reformulações que realizaram em seus projetos estéticos e em suas produções artísticas durante o aprofundamento do autoritarismo e da censura após o Ato Institucional N.5 colocado em prática pela Ditadura Militar instaurada no Brasil (1964-1985) e as duas Ditaduras Militares que se sucederam na Argentina (1966-1973 e 1976-1983). Para além de destacar as estratégias colocadas em prática visando a manutenção da crítica social em seus repertórios, buscou-se evidenciar o redimensionamento que cada intérprete deu para o ideário nacional-popular, bem como analisar algumas das representações e identidades mobilizadas através de suas performances mais paradigmáticas.
Palavras-chave: Música popular. Engajamento. Performance vocal. Identidades sociais. Nacional-popular.
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