Descrição:
NUNES, Sidemar Presotto
O objetivo da presente pesquisa foi identificar as contradições da ideia de “projeto alternativo de desenvolvimento” adotado pelo “campo político da agricultura familiar” na região Sul do Brasil. Centrada na análise das contradições da ideia de alternatividade, procurou-se analisar como o “campo político da agricultura familiar” procura garantir viabilização, legitimidade social e reconstruir os referenciais ideológicos diante de um novo contexto social que passou por diversas transformações econômicas e político- ideológicas a partir do início dos anos 90. Diante desse contexto, a ideia de projeto alternativo de desenvolvimento (PAD) passa a ser proposta como novo referencial pelas organizações sociais da região Sul do Brasil, que aqui se chama de campo político da agricultura familiar. É uma ideia que se propõe enfrentar o processo de centralização do capital agroindustrial e os problemas por ele gerados; o crescente uso de insumos industriais, que promoveria a degradação dos recursos naturais e problemas sociais (êxodo rural, concentração agroindustrial, etc.) e ao centralismo e clientelismo do Estado brasileiro, que estaria privilegiando os interesses dos grandes grupos econômicos. Propõe-se fazer, de dentro do próprio capitalismo, algumas mudanças que pudessem garantir uma melhor reprodução social dos agricultores e contribuir para gerar novos referenciais político- ideológicos. Contém diversas outras idéias imprecisas (desenvolvimento sustentável, economia solidária, comércio justo, etc.) que podem ser adotadas de formas bastante diversas. Mais recentemente, a noção de agricultura familiar passou a ocupar a centralidade da ideia de PAD, contribuindo para criar uma nova identidade política, alterar interesses, projetos e opções políticas. Verifica-se que o campo político estudado conquistou alguns ganhos a partir das opções políticas que fez: constituição e fortalecimento de organizações econômicas (através do associativismo), instrumentos de política agrícola e de seguridade social específicos e fortalecimento da proposta de um novo modelo tecnológico através da agroecologia. No entanto, embora se coloquem como referências que podem conter elementos úteis no processo histórico, esses avanços não foram suficientes para gerar uma proposta para conter o referido processo em curso: centralização do capital, intensificação do uso de insumos industriais na agricultura e do poder das grandes empresas mundiais sobre o Estado. Utilizou-se o conceito de campo (Bourdieu) para delimitar o objeto de pesquisa e os conceitos de ideologia, legitimidade (Eagleton) e de contradição (Lukács, Marx e Engels) como fios condutores do método.
Palavras-chave: alternatividade. Referencial ideológico. Campo da agricultura familiar. Trabalho. Produção. Classes sociais.
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